domingo, 7 de novembro de 2010

“Alguém me ensine a não amar Bob Dylan!”

"Eu conhecia a substância íntima da coisa”.

por Geórgia Alves


Aos 16 tinha medo de geminianos, pela dualidade com que se apresentam. Hoje, muitos anos depois, ela está apaixonada por Bob Dylan, perdidamente. "Ele é a própria definição do termo 'mercurial', diz ela. É meu número, meu modelo”. A melhor definição de Dylan vem dele mesmo, em Crônicas – num auto-retrato sob título "a velocidade": “Dela eu sei”. “Velocidade em absorver informação, em produzir, em se comunicar com pares e o público". (Completa a revista Bravo, de maio 2005). “Quero ter medo de Bob Dylan, mas não consigo. Meu desejo é maior que meu medo”, confessa minha confusa amiga.

“Podia ligar os pedaços facilmente. Para mim não significava nada apresentar coisas como "Columbus Stockade", "Pastures of Plenty", "Brother in Korea" e "If I Lose", "Let Me Lose" de qualquer jeito, emendadas umas nas outras como se fossem apenas uma única longa canção”.


Não entendia o que se passava com ela, não antes de sentir na pele Blowin' in the Wind. Devo estar mesmo velhinha... É que nunca foi projeto meu me apaixonar também, ainda que pela canção. Eu nem sequer era nascida! Minha mãe ainda era uma garota, quando Robert Allen Zimmerman fez a música. Bob tinha 22. Depois de chegar ao mundo no dia 24 de maio de 1941. “Está na idade certa agora, 65”, completa essa menina.

- "Mas eu era tão velho nessa época, sou mais jovem que isso agora". (My Back Pages - 1964).

(Suspiros) ai ai ...

“Alguém me ensine a não amá - lo por completo e me perder novamente”, implora minha amiga.

Ela que sabe amar com tanta força, que se perde. De um total destempero. Nunca fui boa de cozinha, mas não chego a queimar a pizzas, como ela. Talvez exagere no sal. Não é isso o que eu queria dizer. Vou tentar novamente. Ao contrário da minha amiga, quero amar pessoas de verdade, com qualidades e defeitos. E não Bob Dylan. Por mais maravilhoso que seja!

Como vi, de criança aos dias de hoje, minha mãe beijar o pôster do Roberto Carlos. E dizer várias vezes ouvindo as músicas dele – detalhe: na frente do meu pai – “Eu amo você Roberto!”. Achava bacana é só porque não querer, como dizem por aí, “repetir padrão”. Já basta o esforço para manter algum. E recomendo a receita. Estou com Jung, “o amor como a fé só se apresenta aos discípulos mais corajosos”. E eu não devo ser um deles.


“A maioria dos outros artistas tentava conseguir aceitação para si mesmos em vez de para a canção, mas eu não me interessava em fazer isso.

Comigo, a coisa era fazer a canção ser aceita".


Mas, o que fazer para dar um dado de realidade à minha amiga? Por favor, prezados leitores, aguardo boas saídas para o caso. Sugiram alguma solução. Pelo menos enquanto a resposta não é soprada até ela pelo vento!

Outras frases de Bob Dylan:


“As canções de folk eram a maneira de eu explorar o universo, eram imagens, e as imagens valiam mais do que qualquer coisa que eu pudesse dizer”.

"Do lado de fora da Mills Tavern o termômetro estava se aproximando dos 25 graus negativos. Minha respiração congelava no ar, mas eu não sentia o frio.”


“Eu rumava para as luzes fantásticas. Não havia dúvida. Será que eu podia estar enganado? Provavelmente não. Não achava que tivesse imaginação suficiente para estar enganado; tampouco tinha falsas esperanças”.


“Eu tinha vindo de muito longe e começado muito de baixo. Mas agora o destino estava prestes a se manifestar. Senti como se ele estivesse olhando direto para mim e para mais ninguém"



Coluna dacordafelicidade

GEÓRGIA ALVES
jornalista e especialista em literatura brasileira

fonte: http://www.interpoetica.com/site/index.php?/Ge%C3%B3rgia-Alves/%E2%80%9CAlgu%C3%A9m-me-ensine-a-n%C3%A3o-amar-Bob-Dylan%E2%80%9D.html