segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Interpretações de Gilberto Freyre em novo livro

"O que principalmente sou? Creio que escritor. Escritor literário. O sociólogo, o antropólogo, o historiador, o cientista social, o possível pensador são em mim ancilares do escritor. Se bom ou mau escritor é outro assunto". A citação de Gilberto Freyre está logo no início do livro O monóculo & o calidoscópio - Gilberto Freyre, escritor - Algumas influências (Editora Massangana, R$ 30), do pesquisador Cláudio Aguiar, que será lançado hoje, às 19h, na Livraria Cultura, no Bairro do Recife. A afirmação de Freyre, aliás, permeia toda a obra. Quando se decide pelo escritor, não é que Freyre negue as atividades profissionais que o acompanhariam pela vida, mas reivindica para si um olhar diferenciado do leitor.

"A forma dele escrever, dizer as coisas, não é propriamente de cientista. A gente lê, por exemplo, Casa-grande & senzala quase como um romance, ele tem um estilo fluentíssimo, pessoal", explica o autor. Freyre dizia, aliás, que os cientistas sociais, perto dos grandes escritores, pareciam apenas sacristãos.Só entendiam de meia-missa. "Poderíamos dizer, inclusive, que esse ‘preconceito‘ de Freyre com a escrita dos cientistas o trouxe ônus. Durante muito tempo, ele foi escanteado pela academia paulista. Porque ele não era um cientista engajado nos sistemas, nas categorias".

Um dos principais méritos do livro de Cláudio Aguiar é a constatação de que Gilberto Freyre foi influenciado não só pela academia, inglesa ou americana, por onde passou. Ele ressalta, por exemplo, uma influência da Espanha no trabalho de Freyre. "Os cientistas escritores, os filósofos hispanos, têm marcado suas trajetórias por um modo não-sistemático de enfocar as questões abordadas, nos quais repousa menos o rigor formal de gênero que a mescla inaudita de situações".

Com relação à Casa-grande & senzala, por exemplo, que o autor diz que tem uma "dimensão de livro fundador, que rompe com questões de gênero", Cláudio Aguiar cita a importância do pensamento de Miguel de Unamuno (1864-1936). "É significativa a influência da obra unamuniana em todo o pensamento de Freyre, mas, de modo especial, em Casa-grande & senzala, sobretudo a partir daquilo que dom Miguel de Unamuno chamou de intra-história. (#) Trata-se de uma palavra grafada por Unamuno para significar ou definir aquelas situações da vida diária ou da vida íntima dos povos", escreve. Cláudio Aguiar, autor de romances, contos, obras de teatro e ensaios, interessou-se por Freyre desde muito jovem. "Resgatei anotações que tinha feito há um bom tempo. Mas, para quem se interessa por cultura, ler Giberto Freyre é fundamental", finaliza.

Por Pollyanna Diniz, do Diario de Pernambuco

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